segunda-feira, março 05, 2007

Audiolivros Expresso

Atento às possibilidades das novas tecnologias de informação, o EXPRESSO lança, a partir de 10 de Fevereiro, uma colecção de contos de Agatha Christie em alta voz. São seis audiolivros que incluem histórias curtas da grande senhora do crime, nos quais a solução estará a cargo de Hercule Poirot e Miss Marple, dois dos seus detectives mais emblemáticos.
O primeiro volume terá um preço de lançamento de €1,20, e os seguintes custarão €5,90. Cada um deles inclui um CDe um pequeno livro de acompanhamento, para ficar a saber tudo sobre a autora de «Crime no Expresso Oriente».
Quanto tempo leva a ler um livro como Guerra e Paz, ao que parece o texto mais longo da história da literatura ocidental? Mais do que todos os volumes reunidos de À Procura do Tempo Perdido? E, sendo a falta de tempo um dos argumentos mais invocado para justificar o desfavor das letras, conseguirão os audiolivros, que se podem ouvir enquanto se fazem outras coisas, funcionar como alternativa crível à leitura tradicional?
«O livro em papel e o audiolivro são duas realidades que não se excluem. Não é obrigatório optar por um ou por outro. Ouvir pode mesmo ser um estímulo para a compra do texto em suporte tradicional.» A opinião é partilhada por Oriana Alves e Michele Amaral, duas dos três sócios de BOCA - palavras que alimentam, Lda. (o terceiro é João Motta), uma editora de audiolivros cuja livraria virtual está disponível em www.boca.pt.
Entre nós, os livros em suporte áudio começam agora a dar que falar. As primeiras experiências recuam, contudo, à década de 80, quando a Dom Quixote lançou, em parceria com o Círculo de Leitores, vários títulos no mercado, entre eles O Delfim, de José Cardoso Pires, e Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco. As audiocassetes, o suporte da altura, não convenceram o público. Na opinião retrospectiva de Michele Amaral, a causa terá sido a precocidade desses ensaios em relação à tecnologia disponível.
Um problema ultrapassado.
Mp1, Mp2, Mp3, Mp4, Mp5... As novas tecnologias avançam à velocidade da luz e, como sempre nestas coisas, a realidade ultrapassa a ficção. «E-books», «audiobooks», o que mais nos trará o futuro? «A poesia é para comer», escrevia Natália Correia em «A Defesa do Poeta». Ouvir, com certeza.
No que toca a textos em verso, o maior destaque vai para a Assírio & Alvim, editora que, desde 2003, mantém um trabalho continuado de divulgação em suporte áudio. Começou com Ruy Belo (dito por Luís Miguel Cintra) e tem dois novos autores na calha este ano: José Agostinho Baptista, lido por António Cardoso Pinto, e Mário Cesariny, por si próprio, dezenas de horas gravadas que é preciso agora seleccionar, a que não faltam sequer as pausas para o cigarro aspirado pelo poeta da Nobilíssima Visão.
Mais recentemente, o novo suporte tentou também a distribuidora e editora de filmes New Age Entertainment, que arriscou os seis CDs de Codex 632, de José Rodrigues dos Santos lido por Ricardo Carriço, uma tiragem de dois mil exemplares disponível em livrarias e grandes superfícies. Luís Sepúlveda é outro dos autores vertidos para a versão falada. O Velho que Lia Romances de Amor, uma história que mergulhava na oralidade do estilo do escritor chileno, pode agora ser ouvida graças à iniciativa da MHIJ.
Lá fora, os audiolivros são um sucesso de vendas, principalmente na Alemanha e nos Estados Unidos, e uma tradição firme na Grã-Bretanha. Naturalmente, os cegos ou deficientes visuais são destinatários privilegiados de um produto que, para eles, é de primeira necessidade. A adesão ao audiolivro parece ser também relativamente fácil quando se trata de crianças, mas que ninguém negue o prazer mais do que provável de ouvir um texto enquanto conduz, cozinha ou toma, simplesmente, um relaxante banho de imersão (apesar deste ser ecologicamente desaconselhado).
Para além do suporte CD ou cassete (que os ingleses, sempre peculiares, teimam em preferir), os livros falados podem ser igualmente descarregados a partir da Internet, esse meio ao qual, na primeira década de 1990, Bill Gates previa um futuro sombrio. E é precisamente isso que é possível fazer em www.boca.pt., independentemente das edições associadas a um suporte físico.
Albertina Dias, com um mestrado em gestão de sistemas de informação, dirige a SbH, Solutions by Heart, sendo uma fã incondicional dos audiolivros. Conviveu com eles em casa desde pequena (o pai trazia-os do estrangeiro) e garante que os livros falados vieram para ficar. Já fez seis edições de títulos diversos (não só dedicados às crianças) e gosta de sublinhar que os audiolivros não se resumem a uma gravação «tout-court» do que foi anteriormente escrito. Sublinhando a sua função didáctica, pragmática e social, a economista acredita que os «‘audiobooks’ aumentados», onde à experiência auditiva se acrescenta a manipulação de imagens em 3D, marcarão pontos num futuro próximo. E é precisamente nesse projecto que está trabalhar agora, em conjunto com o ISCTE e a Microsoft, embora as reacções do mercado e das instituições, confessa, estejam um pouco aquém das suas expectativas.
Seja qual for o futuro do livro, uma coisa parece certa: aqueles que temem que o cenário previsto por Ray Bradbury em Fahrenheit 451 se concretize, não terão razões para se afligir. Independentemente do suporte, todos os inquiridos são unânimes: os livros vieram para ficar.

«Sou todo ouvidos!»
A versão oral dos textos escritos ganha adeptos. Uma editora como a Naxos tem um catálogo de clássicos invejável, da literatura à filosofia (a dramatização dos diálogos socráticos é uma delícia), passando pelo ensaio. A combinação das palavras com a música, criteriosamente seleccionada, torna os «audiobooks» da Naxos numa experiência imbatível. Na Internet, a livraria virtual Amazon disponibiliza um catálogo considerável, e lojas como a FNAC começam a prestar atenção ao fenómeno. Na Alemanha os audiolivros tornaram-se moda e, nos EUA, uma verdadeira indústria. Ouvir, em vez de ler, Philip Roth ou Saul Bellow está à distância de um «on». Retomando uma prática que tem nas simpáticas leituras em voz alta um digno antepassado, os audiolivros são conhecidos pelo menos desde o final da I Guerra Mundial, quando começaram a ser gravados discos, especialmente pensados para os soldados que haviam perdido a vista no confronto

Fonte: http://expresso.clix.pt/

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