terça-feira, novembro 14, 2006

Dinheiro inacessível em cadeira

Metade das caixas multibanco da cidade de Vila Real têm problemas de acesso para pessoas em cadeiras de rodas, desrespeitando a legislação. Os dados são revelados num estudo que vai ser apresentado pela Universidade de Trás-os-Montes a Alto Douro (UTAD), amanhã, Dia Mundial da Usabilidade, uma iniciativa que conta com 190 eventos diferentes em 37 países do mundo.
Outra das conclusões aponta para que "cerca de 60% das caixas não apresentam correctamente as funções audio para pessoas cegas", explica Francisco Godinho, coordenador do estudo e responsável pelo CERTIC - Centro de Engenharia e Reabilitação em Tecnologias da Informação e da Comunicação.
O trabalho envolveu 35 alunos de uma turma do 3º ano do curso de Informática, que recolheram informações e fotografias em 55 caixas multibanco no centro urbano e em grandes superfícies comerciais, sendo que nestas últimas, "a acessibilidade é normalmente boa", explica um dos alunos, Nuno Cunha.
Mário Trindade tem 31 anos e desloca-se em cadeira de rodas desde os 18 anos, depois de uma intervenção cirúrgica à coluna que correu mal. Também ele acaba por colaborar no estudo, com o seu exemplo. Mário pratica atletismo e basquetebol em cadeira de rodas e tem uma boa preparação física, útil para ultrapassar obstáculos. Mas alguns, como as escadas, são mesmo intransponíveis. "Na maioria dos multibancos não consigo chegar ao teclado, mas há um número muito significativo em que fico a vários metros de distância. Só por telepatia", conta.

Na zona da Senhora da Conceição, uma área nova da cidade, por exemplo, "há uma agência do Totta que não tem qualquer rampa, mas vários lanços de escadas. É um prédio novo e o banco está ali há um ano instatalado. Não se entende bem como". Pela positiva, e ainda na mesma zona, "uma agência do Finibanco é das poucas na área urbana com acesso fácil. O curioso é que posteriormente colocaram mesmo à frente do ecrã um cesto para os papéis que estragou o que antes estava bem feito", refere.
Na zona Além-Rio, vamos encontrar uma outra situação caricata. O multibanco da Caixa Geral de Depósitos, também num prédio recente, vai ser pela primeira vez usado por Mário Trindade. Uma rampa de acesso parece antever sucesso, mas cedo se conclui que a rampa é só para acesso à porta. O multibanco foi instalado exactamente a meio da rampa. Não só a cadeira de rodas fica inclinada, como é impossível chegar a todos os botões "aqueles que consigo alcançar com as mãos, não os consigo ver, e não são sufientes para efectuar qualquer operação, mesmo que os soubesse de cor", explica.

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