domingo, outubro 03, 2010

Primeiro dicionário de Língua Gestual tem 15 mil imagens

Pedro Pires usa todos os dedos das duas mãos em movimento para dizer que não sabe ainda se vai comprar o primeiro dicionário de Língua Gestual, apresentado ontem no Porto. O aluno da Escola EB 2/3 de Paranhos, 14 anos, é surdo e admite que pode ser uma ferramenta útil para aprender mais e melhor sobre a Língua Portuguesa onde reconhece algumas limitações mas, de resto, sobre o outro lado (dos gestos) refere que tem a lição bem aprendida desde muito pequenino. Ana Bela Baltazar, autora do primeiro dicionário de Língua Gestual Portuguesa, publicado pela Porto Editora, acredita que esta obra vai servir a comunidade surda e os ouvintes.

Pedro está na sua escola, um estabelecimento de referência no ensino bilingue. Sobre as conversas com os amigos ouvintes refere que até hoje valeram-lhe algumas "dicas" que deu sobre a Língua Gestual e muita mimíca. Mas isso não chega, avisa Ana Bela Baltazar. "Saindo dos portões da escola não vão encontrar ninguém que lhes explique seja o que for em língua gestual. E isso vai-lhes acontecer pela vida fora". Por isso, defende a autora, surdos e ouvintes precisam deste dicionário. Para comunicar, ou seja, para ficar mais perto. Ângelo Costa, presidente da Associação de Surdos do Porto, agradeceu a Ana Bela Baltazar: "É um passo importante na biblioteca das pessoas surdas. É uma obra de grande importância". Em Portugal a comunidade surda envolve cerca de 100 mil pessoas. Muitas, lembra Ana Bela Salazar, "estão isoladas e ainda são tratadas como atrasadas mentais".

O livro de capa preta com a imagem de dois dedos a caminhar na palma de uma mão é o resultado de quatro anos de trabalho da intérprete de língua gestual Ana Bela Baltazar. A obra com 1168 páginas custa 33,31 euros e inclui 5200 entradas de palavras e 15 mil imagens. Num mundo sem som onde existem conceitos e significados que podem ser ditos num gesto, pretende-se que esta obra ajude a enriquecer o vocabulário da comunidade surda que, por vezes, não reconhece algumas palavras escritas da língua portuguesa. Assim, ali se explica com imagens dos gestos e ajuda de um DVD - "a língua gestual tem movimento, perde-se parada num papel" - o significado de algumas palavras. Por outro lado, para quem queria aprender (com descrições pormenorizadas) a língua gestual portuguesa - a Constituição da República reconhece, desde 1997, que a LGP é uma língua oficial - Ana Bela Baltazar criou um guia de aprendizagem inédito no país. Até agora, explica a autora, não existia nada que pudesse ajudar alguém a aprender língua gestual sem frequentar aulas. Finalmente, Ana Bela Baltazar acredita que este dicionário pode ser um apoio importante para os alunos surdos, numa altura em que estes estão a ser encaminhados para as escolas de referência que podem ficar a quilómetros de casa e que, assim, podem afastar estas crianças das aulas.

FONTE: jornal.publico.pt


1 comentário:

monalisa disse...

PORTO EDITORA - Dicionário "pioneiro" de Língua Gestual Portuguesa

O Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., ao tomar conhecimento da publicação recente do Dicionário de Língua Gestual Portuguesa pela Porto Editora, que saúda como mais um importante contributo para o conhecimento da língua materna das Pessoas surdas, vem, no entanto, corrigir a natureza pioneira e inovadora do referido Dicionário, que vem amplamente descrita nos órgãos de comunicação social, dado que, desde o início da década de 90, o então Secretariado Nacional de Reabilitação, hoje, Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., publicou, em parceria com o Ministério da Educação, o GESTUÁRIO da Língua Gestual Portuguesa, após rigoroso trabalho técnico com peritos de reconhecida competência e de audição/participação permanente com o movimento associativo das Pessoas surdas. O GESTUÁRIO da Língua Gestual Portuguesa conheceu, ao longo de uma década, cerca de oito reedições.

Mais recentemente, o Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., tem disponibilizado gratuitamente o Gestuário Digital da Língua Gestual Portuguesa produzido pela APECDA, e com financiamento Comunitário - Programa Operacional Sociedade e Conhecimento.